quinta-feira, 15 de abril de 2010

Menos TV, mais Internet

Uma investigação de 2008, notícias retirada do Portal de Educação, revela que os pais estão preocupados com o tempo que os filhos passam na Internet e que cerca de 67% dos jovens portugueses, dos 12 aos 18 anos, admitem que não sabem passar sem telemóvel.

A televisão passou para segundo plano, a Internet conquistou terreno e viver sem telemóvel seria quase impossível. A tese de doutoramento "Audiências dos 12 aos 18 anos no contexto da convergência dos media em Portugal: emergência de uma cultura participativa?", da investigadora Célia Quico da Universidade Lusófona, tenta compreender os principais usos dos media e tecnologias de informação (TIC). O trabalho é constituído por quatro estudos empíricos: um etnográfico, realizado em casa de 10 famílias com uma amostra de 33 participantes, um inquérito quantitativo com uma amostra de 962 jovens dos 12 aos 18 anos; um estudo de avaliação de um formato piloto de media participativo junto de 77 jovens dos 12 aos 20 anos, e um caso de estudo de uma iniciativa no âmbito da literacia dos media digitais.

A questão é polémica. O uso das novas tecnologias pode significar um maior isolamento social dos jovens? "Julgo que as tecnologias como a Internet e as comunicações móveis são sobretudo potenciadoras da sociabilidade dos jovens dos 12 aos 18 anos e não tanto potenciadores do seu isolamento social. Porém, tal não significa que não haja jovens que se fixem de modo intenso em determinadas tecnologias e que dessa fixação resulte como que uma erosão das suas relações sociais", adianta Célia Quico. "Há que ter em consideração que nestas faixas etárias as principais actividades realizadas através da Internet são de comunicação, com o uso do MSN e a rede social online Hi5 no topo", acrescenta.

Conversar através de programas de mensagens instantâneas foi a prática mais frequente do conjunto de actividades listadas no inquérito quantitativo, com um total de 65,8% dos jovens a afirmarem usar programas como o MSN pelo menos um dia por semana. Participar em sites de redes sociais como o Hi5 é uma prática desenvolvida com frequência por um total de 57,3% dos jovens que responderam ao inquérito quantitativo: 19,7% todos os dias, 19,2% três a seis dias por semana, 18,4% um a dois dias por semana em média.

Há conclusões a reter. "No caso particular dos usos da televisão por parte dos jovens dos 12 aos 18 anos, no estudo etnográfico verifiquei que se assiste à diminuição da importância da televisão na dieta de media dos mais jovens, não só porque a maior parte dos jovens participantes neste estudo actualmente já recorrem ao uso do computador e Internet como forma preferencial de ocupação do tempo livre em casa depois do jantar, como também por projectarem no futuro - daqui a três a cinco anos - verem menos televisão e usarem mais a Internet", refere a investigadora. Os dados apurados no inquérito quantitativo revelam que há uma maior preferência da Internet relativamente à televisão por parte dos jovens. "A opção ?prefiro a televisão à Internet' recolheu um total acumulado de concordância de 20,9% e um total acumulado de discordância na ordem dos 34,1%. De modo semelhante, na opção ?Internet substitui a televisão', 41% dos participantes no inquérito concordaram com esta afirmação, enquanto que 23,2% discordaram com esta frase".
A televisão perde terreno, mas continua a ser um meio importante e significativo no quotidiano da maioria dos jovens. Ver menos e intervir mais? "Os usos que os jovens dão à televisão são diversos. Na minha investigação, a relação entre ver menos e intervir mais acabou por não ser explorada, mas certamente é algo que importa compreender, não sendo descabido que também haja quem seja um heavy-viewer de televisão - mais do que três horas de visionamento diário, de acordo com a definição de Sonia Livingstone - e ainda assim seja participativo nos media e TIC dos mais diversos modos", responde Célia Quico.
A afirmação "não sei passar sem o telemóvel" obteve uma elevada percentagem de concordância: 39% dos jovens responderam concordar completamente com esta afirmação e 28,3% responderam concordar, o que totaliza 67,3% de concordância. Já na afirmação "não sei passar sem a Internet", 24,8% dos participantes no inquérito seleccionaram a opção "concordo completamente" e 32,1% escolheram a opção "concordo", o que totaliza 56,9% de concordância. Finalmente, na frase "não sei passar sem a televisão", 13,1% dos inquiridos responderam concordar completamente e 27,5% responderam concordar, o que dá 40,6% de concordância. "Gostaria de destacar que, do vasto conjunto de resultados apurados, o envio e recepção de SMS está no topo das actividades realizadas via telemóvel dos jovens no inquérito quantitativo sobre usos dos media e TIC, com 83,3% dos participantes a afirmarem que o efectuam pelo menos um dia por semana: 50,8% todos os dias, 15,5% três a seis dias por semana, 17% um a dois dias por semana em média".
Ambivalência em relação à TV
"Os usos dados ao telemóvel vão para além da comunicação por texto ou voz: destaca-se em primeiro lugar dos resultados do inquérito quantitativo o envio de mensagens de vídeo a outras pessoas através do telemóvel, que 26% dos jovens afirmaram realizar todos os dias e 18,5% efectuam com regularidade (três a seis dias por semana).

Ainda, tirar fotografias com o telemóvel é uma actividade habitual para parte significativa dos participantes no inquérito: 23,2% dos jovens afirmaram que o fazem todos os dias e 20,1% tiram fotos com o telemóvel em média três a seis dias por semana". Outra prática habitual é filmar com o telemóvel: 22% realizam esta actividade todos os dias, enquanto 15% filmam com recurso ao telemóvel com frequência quase diária, ou seja, entre três a seis dias por semana.
E como se comportam os pais em relação ao uso da Internet? "De modo geral, os pais reconhecem a utilidade da Internet como ferramenta de auxílio aos estudos, mas também manifestam alguma preocupação relativamente ao tempo que os seus filhos ocupam com esta tecnologia e o tipo de utilizações que acabam por dar. Assim, a Internet já foi fonte de conflitos em algumas das famílias visitadas, em que os pais definem restrições de acesso à Internet a partir de casa, seja ao especificarem um determinado horário de uso deste meio ou a definirem uma duração máxima diária de acesso". A investigadora realça, por outro lado, "a ambivalência dos pais em relação à televisão".
"Em diversos casos manifestaram desagrado quanto à qualidade e pouca diversidade da programação dos principais canais em sinal aberto, bem como aos horários tardios de exibição de séries e filmes, ainda que sejam espectadores regulares dos noticiários e novelas destes mesmos canais. Por outro lado, a televisão em algumas destas famílias visitadas funciona como um agregador da família, servindo de pano de fundo a conversas e ao convívio".
A pesquisa indica que parte significativa dos jovens já participou como criador de conteúdos em formatos ou iniciativas de media. "Verificou-se que criar conteúdos é uma prática comum entre a maioria dos jovens dos 12 aos 18 anos em Portugal, com destaque para fazer vídeos, tirar fotos e fazer álbuns de fotografias na Internet, bem como criar e manter blogues". Célia Quico destaca alguns dados: 71,2% dos jovens afirmaram já ter feito um vídeo com recurso ao telemóvel e 57,9% utilizaram uma câmara de filmar para o mesmo efeito. "No estudo de avaliação do formato de media participativo, 46 dos participantes afirmaram já ter feito um vídeo com o telemóvel (59,7%) e 35 já recorreram a uma câmara de filmar para fazer um vídeo (45,5%)".
Tirar fotografias e utilizar os perfis em sites de redes sociais e fotologs (álbuns de fotografias online) para partilhar fotos são práticas muito comuns e realizadas com frequência. "Fazer um álbum de fotografias na Internet é uma actividade já executada por 54,4% dos jovens dos 12 aos 18 anos que participaram no inquérito quantitativo; tirar fotografias com o telemóvel é uma prática habitual e frequente, com 70,2% dos jovens a fazê-lo em média pelo menos um dia por semana." No estudo etnográfico, a publicação de fotos no Hi5 e em fotologs foi referida por 11 dos 16 jovens participantes. "Criar e manter blogues são actividades já realizadas por cerca de metade dos jovens dos 12 aos 18 anos: 47,4% dos inquiridos que responderam ao inquérito quantitativo, enquanto que 23,9% responderam ter interesse nesta actividade".

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